quinta-feira, janeiro 12, 2012

Katie - Capítulo 4

Capítulo 4


Quando eles chegaram ao Ninho da Pomba, Rick saiu do carro, mas Katie não.

- Eu acho que vou esperar aqui, - ela disse.

Ele olhou surpreso. Katie geralmente não se afastava de uma potencial oportunidade
social.

- Você está bem?
- Sim, eu só quero sentar por um minuto. Eu vou entrar se ficar entediada.
- Ok. Eu já volto.

Ela pensou que se ela sentasse sozinha por alguns minuto, algumas respostas viriam a
ela em relação a várias questões da vida que a estavam pressionando.
Seu relacionamento com Rick estava sempre no quadro “Para discussão” na mente de
Katie. Em segundo estava a inesperada oferta de Julia para o cargo de AR(assistente dos
residentes). A terceira decisão pendente era sua carreira.
Mais cedo nessa semana Katie teve uma conversa não muito agradável com seu
conselheiro. Quando ela começou na Universidade Rancho Corona, Katie tinha sido
transferida com uma variedade de créditos da faculdade comunitária (faculdade para
alunos de uma comunidade específica) e tinha declarado botânica como sua carreira.
Após suas tentativas não tão bem sucedidas criando seus próprios chás de ervas, ela
tinha mudado para biologia com o pensamento de que ela poderia se tornar uma
professora. Esta opção deixou de ser atrativa para ela há uns quatro meses atrás.
Agora que ela estava para completar seu penúltimo ano na faculdade, seu conselheiro
apresentou algumas possibilidades nas ciências. Nenhuma das opções pareceu desejável
ou boa escolha para Katie. Ela tinha evitado sua reunião marcada por dois cursos de
verão com aulas de educação geral. Ela também deixou escritas as palavras “não
declarado” em um formulário onde uma carreira precisava ser listada antes que ela
pudesse completar seu registro para o último ano.
Katie tinha conversado com Rick por duas vezes sobre o que ela chamava de “dilema de
carreira”. Ele sugeriu que ela seguisse a carreira de negócios, mas Katie não conseguia
visualizar isso. Ela não queria gerenciar um Café como Rick fez.
Mas então, ela não conseguia se ver em nenhuma outra carreira em particular.
Talvez eu nem devesse estar indo para a faculdade. Talvez eu devesse parar agora e
esperar até que saiba o que eu quero ser quando eu crescer.
Ela se se encostou à porta do carro e passou os dedos nas pétalas do buquê de Cris.
Katie tinha deixado seu dilema de carreira fora das suas conversas com Cris nas últimas
semanas. Sua melhor amiga estava muito ocupada com suas provas finais, formatura e
planos de casamento. Ela não precisava ajudar Katie a resolver seus problemas. Katie
estava determinada a resolver este por conta própria.
Só que não exatamente agora.
Rick não voltou para o carro tão rápido quanto Katie esperava. E ela não gostou tanto de
ficar sozinha quando ela pensava que iria gostar.
Deixando o buquê no carro, Katie entrou no Ninho da Pomba. Ela achou Rick na
cozinha, deitado no chão com a cabeça embaixo da pia.

- Me diga que você não está fazendo o que eu acho que você está fazendo.
- Katie, olhe só isso. Carlos disse que ele acha que as formigas estão entrando na parede
por aqui, na conexão dos canos.

Katie cuidadosamente ficou com as mãos e os joelhos no chão e girou a cabeça para
olhar embaixo da pia. Ela não via nenhuma formiga.

- Rick, está na hora de você chamar um profissional. Sério.
- Um exterminador?
- Ou um exterminador para matar suas formigas imaginárias ou um terapeuta
profissional para te convencer que as formigas não existem.
- Elas existem. Você só não estava aqui quando elas vieram em massa.
- Se você está dizendo. E por falar nisso, você ainda está usando um terno alugado. Só
em caso de você ter esquecido.

Ele levantou e ofereceu a mão a Katie.
Ela levantou.

- O que agora? Você está planejando ir para a lixeira para ver se você
encontra algum roedor?
Rick abaixou o queixo. - Roedores, hã?
- Sim, porque, você sabe, parece que você está vestido para um pequeno mergulho na
lixeira.
- Se eu estou indo, você vai comigo.
- Ah, é? Eu gostaria de ver isso acontecer.

Num rápido movimento, Rick agarrou Katie em volta dos joelhos e a colocou sobre suas
costas como se ela fosse um saco de batatas vestido num vestido de dama azul.

- Rick!

Ele cruzou a cozinha em quatro passos largos e disse “Lixo”, como se ele saísse em
direção à lixeira.
Katie riu e bateu nas costas de Rick com as mãos fechadas. Antes que ela pudesse
ameaçá-lo, duas garotas da Racho Corona a chamaram. Elas estavam estacionadas perto
da área da lixeira.
Rick rapidamente colocou Katie no chão, como se de repente percebesse o quanto ele
estava sendo não-profissional em seu lugar de trabalho. Katie ajeitou o cabelo para trás;
seu rosto ficou rosado. As duas meninas saíram do carro e cumprimentaram Katie, mas
os olhos delas estavam em Rick.

- Ei, Carley, Tifannie, - disse Katie descontraidamente. - Linda noite, vocês não
acham?

As duas meninas estavam usando camisetas rosas. O cabelo loiro de Carley estava preso
em um rabo de cavalo, e Tifannie usava seu cabelo loiro em duas tranças frouxas.

- Nós demos uma pausa no estudo para comer. O que vocês estão fazendo? - Carley
perguntou.
- Nós estamos dando uma pausa no estudo também. - Katie deu um sorriso de lado para
Rick. - Um de nós estava estudando formigas, e um estava coletando dados para uma
pesquisa sobre roedores.
- Formigas? - Tifannie perguntou.
- Roedores? - Carley completou. - Vestidos assim?
- Nós estávamos em um casamento hoje cedo, - Rick explicou.
- Você é o Rick, não é? - Carley perguntou. - Você é o gerente aqui, certo?

Ele concordou, com uma expressão que parecia ser uma mistura de vergonha por ter
sido pego em um comportamento inapropriado e orgulho por ter sido identificado como
gerente. Katie percebeu que não foi bom ter mencionado sobre formigas e roedores no
restaurante de Rick.

- Nós amamos sua pizza San Felipe, - disse Carley.
- Sim, é nossa favorita, - Tifannie concordou.

Carley listou suas bebidas favoritas do cardápio do Ninho da Pomba, e Tiffanie
concordando com tudo.
Rick continuou sorrindo, o que fez com que Katie quisesse dar um tapa nele e dizer,

- Não vá ter uma overdose com tanta bajulação, Doyle. - Ela estava acostumada com sua
rotina de gerente amigável e seria a primeira a dizer que Rick era ótimo em relações
públicas.
- EU tenho que voltar lá dentro e pegar minhas chaves,- Rick disse. - Quando vocês duas
forem pedir, chamem a Andrea. Eu vou garantir que ela dê a vocês duas xícaras de
expresso como minha contribuição para a pausa no estudo de vocês.
- Wow, obrigada!

Rick correu de volta para a porta da cozinha, e Carley disse para Katie,

- Seu namorado é o melhor cara que existe.
- Meu namorado, - Katie repetiu, gostando da forma como soou.

No estranho silêncio que se seguiu, Carley adicionou,

- Ele é seu namorado, não é?

Antes que Katie pudesse surgir com algum tipo de resposta, Rick voltou e disse,

- Tudo certo. Andrea está esperando por vocês. Pronta, Katie?
- Sim, estou pronta.

Katie podia sentir o olhar da meninas enquanto elas assistiam sua saída com Rick. Ela
teria adorado se Rick tivesse colocado seu braço em volta dela ou segurado sua mão.
Qualquer gesto de afeição para mostrar a Carley e Tiffanie que Katie e Rick estavam
juntos. Mas Rick manteve suas mãos para si mesmo. Ele e Katie andaram lado a lado, se
comportando como empregados respeitáveis e bem-vestidos do Ninho da Pomba.
Enquanto eles voltavam para Rancho Corona, Katie girava o buquê de Cris no seu colo.
Ela foi atraída pelo perfume das gardênias murchas e riu, pensando em Cris e Ted. Eles
estavam no avião agora, voando para Maui.

Por que você está rindo? - perguntou Rick.
- Por nada.

Rick olhou com um olhar de dúvida para ela.

- Ok, eu não posso mentir. Eu estava pensando sobre Ted e Cris e o casamento e, você
sabe, um monte de coisas melosas.
- Coisas melosas, hã?
- Sim, coisas melosas.
- Você quer saber o que eu estava pensando? - Esta era uma pergunta rara vinda do Rick.
- Claro. O que você estava pensando?
- Eu estou muito feliz com o jeito que nosso relacionamento está. Eu acho que as coisas
estão indo bem.

Katie esperou que ele adicionasse alguma coisa mais comprometedora. Ele não disse
mais nada.
Então Katie adicionou seus próprios pensamentos.

- EU acho que nós estamos na pista lenta por muito tempo.

Rick olhou para ela, parecendo confuso.

- Esta estrada só tem uma pista nessa direção.
- Eu quis dizer a pista lenta na estrada do nosso relacionamento.

Rick ainda parecia confuso.
Katie virou os olhos.

- Rick, eu e você estamos levando nosso relacionamento lento por
muito tempo. Quer dizer, l-e-n-t-o. Não que eu tenha nenhuma reclamação importante.
Eu só pensei que talvez você fosse dizer que estava pronto para ligar a seta.
- E ligar a seta significaria que nós estamos prontos para ir para uma pista rápida?
- Certo. Ou pelo menos pensando em mudar de pista. E isso não tem que ser uma
mudança para a pista rápida. Poderia ser a pista do meio. Ou se nós estivéssemos num
relacionamento com uma estrada de seis pistas, então esta seria uma mudança de pista
ainda menor. É que nós estamos nessa pista lenta por tanto tempo que nós caímos na
rota dessa estrada.

Rick continuou dirigindo. Mesma pista. Mesma velocidade. Sem comentários.
Katie olhou pela janela e desejou que não tivesse dito nada. Ao menos não a analogia
toda com mudança de pista e rota. Ele não gostou do jeito como seus pensamentos
tinham saído. A verdade era que ela não queria ser a responsável por acelerar as coisas.
Ela nem tinha certeza se estava pronta para fazer uma mudança de pista no
relacionamento deles com todas as outras decisões que ela tinha à frente dela. Mas hoje
parecia um dia para declarações de amor – ou ao menos de afeição. O discurso "as
coisas estão indo bem" de Rick era apenas blá.

- É o seguinte. - Ela virou para Rick. - Quando você voltou para pegar suas chaves,
Carley perguntou se você era meu namorado.
- O que você disse pra ela?
- Eu não disse que você era, mas também não disse que você não era. Eu queria dizer,
'Sim, Rick Doyle é meu namorado. Ele não é ótimo?’ Mas eu não podia dizer isso. Quer
dizer, eu posso dizer que você é ótimo. Mas desde que nós decidimos não usar as
etiquetas namorado-namorada até que nós dois estivéssemos prontos para o próximo
nível de compromisso –
- Você está? - perguntou Rick.
- Eu estou o que?
- Pronta para o próximo nível de compromisso?

Katie não tinha uma resposta. Isso a deixou surpresa.
Rick refez sua pergunta como se ela não tivesse entendido o que ele estava perguntado.

- Você está pensando que nós estamos prontas para fazer a mudança de pista? Nós
estamos prontos para ser namorados?

A resposta imediata e sem pensar foi

- Eu não sei.

A resposta espontânea a surpreendeu de novo. Ela acreditou que era honesta, então ela
ficou presa com isso, mesmo ela sabendo que se ele tivesse feito essa mesma pergunta
mais cedo naquele dia ela provavelmente teria gritado, "Finalmente! Sim!"

Katie jogou a batata quente de volta para Rick.

- Você está?
- Se eu estou pronto para ser oficialmente namorado?
- Sim. Está?

Rick deu uma pausa.

- Quase. Veja, eu não acho que rotas sejam ruins. Rotas são rotinas, e rotinas são boas. Elas são estáveis e previsíveis. Rotinas levam você pra onde você está indo. Nós precisamos continuar orando sobre o que está pó vir para nós. Nós
temos o verão inteiro à nossa frente, e no próximo outono você vai ser –
- Uma assistente dos residentes. Possivelmente. Ou talvez uma desistente da faculdade. Eu estou entre essas duas.

Rick riu.

- Não ria. Eu estou falando sério. Sobre o cargo de AR, principalmente.

Katie colocou Rick a par da sua conversa com Julia e concluiu com,

- Eu não decidi, mas estou pensando seriamente sobre isso. E eu vou orar sobre isso. E você está certo
sobre nós orarmos sobre o que está por vir para nós. Eu preciso orar um pouco mais
sobre isso.

O carro seguiu na estrada sem que nenhum deles falasse nada por alguns minutos.
Quando Rick falou, seu tom era grave.

- Esta é uma grande decisão, você sabe.
- Qual decisão? Sobre namorados ou sobre assistente dos residentes?
- As duas.
- Eu sei. Adicione essas ao carrinho de compras com meu dilema da carreira, e eu tenho
três grandes itens indo ao caixa da vida nesse momento.

Rick entrou com o carro no estacionamento do dormitório de Katie e desligou o carro.
Ele encostou na porta com seu braço sobre o volante.

- Se você aceitar o cargo de AR, isso significaria que você iria trabalhar menos tempo no Ninho da Pomba. Isso seria um
problema, já que você disse que precisa de mais dinheiro no próximo ano.
- Eu sei. Mas esta é a parte boa sobre o emprego. Se eu aceitar o cargo de AR, meu
quarto e minhas refeições serão cobertas. Quarto e refeição, Rick! Eu não conseguiria
dinheiro suficiente para cobrir quarto e refeição trabalhando no Ninho da Pomba meio
expediente. E eu não posso trabalhar mais horas do que eu já trabalho, porque, mesmo
com o curso de verão, meu conselheiro disse que provavelmente eu vou ter que pegar 18
créditos no outono independente de qual carreira eu escolher. Quer dizer, contanto que
eu escolha uma carreira.

Katie estava exausta. Ela não queria terminar esse dia glorioso examinando todas as
decisões não ter terminadas na sua vida. Era deprimente.
A mandíbula de Rick se movia pra frente e pra trás como se ele mascasse as palavras de
Katie.

- Você sabe que nós nos veríamos muito menos - ele disse.
- Não necessariamente - Katie retrucou.

Obviamente o Sr. Eu-gosto-de-estar-numa-rota não gostou da potencial saída de Katie
da rotina estabelecida deles. Talvez fosse bom que o relacionamento deles ainda
estivesse indo devagar. Se ele mudasse radicalmente, poderia ser um ponto final.
Assim que Katie percebeu o potencial resultado da sua decisão, sua garganta deu um nó.
Ela não queria terminar. Ela preferia a pista lenta a nenhuma pista.
Seguindo a rotina, Rick levou Katie ao seu dormitório, deu um abraço e disse que
ligaria mais tarde.
Ela respirou fundo.

- Mais tarde - sempre foi uma das palavras favoritas de Ted.

Katie percebeu que esta também era a palavra que estava evitando que seu relacionamento
com Rick se tornasse num grande e meloso romance. “Mais tarde” nunca seriam suas
palavras favoritas.

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